sábado, 14 de junho de 2014

O Lobo de Wall Street e a questão da superficialidade na vida -Review

Em primeiro lugar Boa Noite, segundo, iniciei a sessão de filmes 2014 de forma bem positiva: consegui assistir dois que foram indicados ao Oscar, antes que a próxima premiação saia. 0/ Sério, parece brincadeira, mas o meu plano inicial era assisti-los antes. Falhei =/
Mas enfim, já comecei essa empreitada, pelos aplaudidos O Lobo de Wall Street e Blue Jasmine. O segundo vem no próximo post.

O Lobo de Wall Street foi um dos que mais me interessou, não só por ter o Leonardo de Caprio (mas isso sempre contribui), como também por contar uma área sobre o que pouco ouvi falar: o mercado imobiliário. Como vivem, o que se passa lá no meio, e principalmente, anos 80 e 90, que a gente não vê muito em livros e no cinema, apesar de ele ter perfeitas condições de ser explorado pelos cineastas atuais.
Este filme de Martin Scorsese é baseado numa história real, a de Jordan Belfort, corretor de ascensão meteórica na bolsa de valores, que foi preso por fraude e corrupção. Se ele exagera ou não, não faço ideia. Mas que é genial, é.  Em primeiro, o personagem narrar sua própria história, em tempo real e também como flashback. Ás vezes parece que ele está a apresentar seu próprio programa, contar a sua vida numa entrevista. A interação do Di Caprio nesse ponto é incrível. Ele se supera a todo momento, sejam nas expressões hilárias de Belfort, na lábia incrível ao telefone, na transfiguração do bom homem num sujeito desprezível, na mesma cena.
Porque na verdade, não importa o quanto as orgias e o consumo excessivo de drogas pareçam ser engraçados ou desejáveis (para mim não), esse pessoal do filme é desprezívél. Não se encaixam em nenhum tipo de personagem clássico, pois não tem nada que o atraiam, uma história, uma característica, e isso não aparece posteriormente, como costuma acontecer quando os personagens são "comuns". Eles são simples, ao ponto de serem sim medíocres. Medíócres, pois não foram capazes de se controlar _ dois vão morrer por causa de drogas e problemas pessoais, sendo que porra, eles tinham todo o dinheiro do mundo; não muito inteligentes _convenhamos, Jordan teve muitas oportunidades de não ter sido pego, mas o ego e/ou a mente pequena não deixaram, isso fica claro. Essa é a constante que me prendeu durante todo o filme: o personagem não se regenera, não muda. Ele só consegue piorar até o final. Não desenvolve-se profundamente até o final do filme; ele não consegue sair do jogo de venda e troca que aprendeu em Wall Street. Até nas relações emocionais ele é assim: uma questão de vender seu peixe e conseguir, como ele fez com a segunda esposa.

Alias, esse passa a ser o ponto de virada do filme, quando as coisas passam a dar muito errado para Belfort. Sua separação e posterior  casamento, constituição de família coincidem com sua queda, pois ele não consegue mais aceitar estabilidade em sua vida. Querer sempre mais é o que chama a atenção do FBI para sua empresa, o vai afastando da esposa e o quase faz ter um overdose ao experimente várias pílulas velhas. A busca de estar sempre no "topo" marca novamente o vazio que é a vida do personagem, incapaz de perceber estímulos que não explodam em sua mente. E não é só com ele que isso acontece: sua esposa e seus sócios também dão demonstração de quanto estão perdido no turbilhão de riquezas, que parecem perder rápido sua capacidade de mobilizar a nossa atenção.

Aí é que entra a questão da superficialidade, tão notável nesse filme que eu resolvi por no título. Jordan não entendeu, mesmo após preso, que tudo na vida trás consequência, e o mais curioso é que isso não parece fazer falta, pois tanto na filme como na história original, hoje ele está bem de vida. Dá até palestras para as pessoas que supostamente lesou. Digo: uma pessoa te ferrou e você quer ser igual à ela. Como pode? Que valores são esses?
Infelizmente, esse filme não ganhou nenhum dos oscars que concorreu, em parte porque acho que jamais a Academia permitiria ganhar um filme com tantas imoralidades assim. Pois no final das contas, a história não toma partido, não aponta nada como errado, cabendo a cada um a interpretação. Um nó bem cego, e fabuloso que me prendeu durante todo o filme.