terça-feira, 2 de setembro de 2014

E viva a ilusão: Blue Jasmine (2013)

 Blue Jasmine é o segundo filme dos indicados ao Oscar de 2014 que assisti. Primeiro, fui muito pelo fato dos outros não estarem disponíveis _ e eu nem ter lembrado de Gravidade, que me motivou a pegá-lo. Outro foi logicamente o seu autor, Woody Allen, e a estética maravilhosa do filme _grande escolha de cores, nuances, luzes, que seduzem muito nosso olhar para o mundo idealizado do autor e da personagem; algo que vou falar mais a seguir.

Nunca vi um filme do Woody Allen, pelo menos que eu lembre de ter assistido pensando "ah este é o Allen", então resolvi ficar atenta. Falam muito sobre ele, inclusive sobre sua abordagem sempre da decadência das elites, da exuberância dos cenários, das históricas melancolicas e reflexivas.
O cenário de Blue Jasmine realmente é incrível, com cores exuberantes, uma atmosfera rica de detalhes, com um tratamento de imagem esmerado. Devemos lembrar que nada ali é por acaso é claro, já que é o visual da película que vai envolver-nos no universo de Jasmine, ou Jannette, que troca de nome para conseguir ascender socialmente casando-se com um marido rico, que posteriormente é acusado de corrupção e suicida-se na prisão, deixando ela  pobre e sozinha. Sua irmã irá acolhe-la, mostrando assim um outro lado da vida da personagem que ela não aceita: o do subúrbio, porque me desculpe eu não consigo considerar ninguém daquelas pessoas ruins de vida.

Pois bem, Jasmine não aceita ser pobre. Ela também não aceita que seu casamento é de aparências, que perdeu todo o glamour que já teve um dia. E até aqui, a premissa do filme é muito boa, pois a vemos em surto literalmente (apesar de isso nunca ser explicitado, ninguém saber porquê, talvez tentando manter o caratér lúdico/real da obra). Porém, você não consegue sentir empatia pela pertubada Jasmine, nem pela irmã dela que constantemente é humilhada e rebaixada por aquela. Eu só consigo exprimir isso como uma "falta de informações", ou de cenas que nos permitam conhecer mais os personagens, entender suas motivações. Tudo fica "sugerido", mas essa sugestão mesmo não é tão enfatizada ao ponto de tocar o telespectador. Entendam: tudo bem ser sutil, mas quando você não consegue gostar ou sentir empatia por ninguém na história, você não se envolve. Algo está errado.

E apesar da interpretação de Cate Blanchet (que ganhou o Oscar) salvar muito o filme, ela não salva o roteiro, a impressão de que estamos sendo enganados, de que o Allen tá me fazendo assistir um filme e não vai me oferecer o que ele  propõe. E ele proporia uma reflexão sobre  busca desesperada por "sucesso", fingindo ser quem não é e criando uma auto-imagem perturbada e distorcida. porém não é isso que vemos no final, pois Jasmine termina de enlouquecer, sozinha e abandonada. Tudo que acontece no filme é por causa de loucura? Claro que não, ela buscou passo-a-passo, a ideia apregoada do que é sucesso. Cabe dizer que isto não é loucura; não está distante da realidade, e que muitas pessoas que conhecemos estão na busca pelo mesmo. A ilusão de Blue Jasmine não é dura por levar a insanidade, e sim por estar próxima de nós demais para podermos ignorar.